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Religião ganha força na crise

Religião ganha força na crise

Agência Paparazzi Brasil
Religião ganha força na crise Agência Paparazzi Brasil

O avanço da fé: o crescimento evangélico em uma Cuba pós-ateísta


A paisagem social e espiritual de Cuba está em transformação. O que antes era um Estado oficialmente ateu, hoje presencia o florescimento de igrejas evangélicas, especialmente entre
os jovens. A maior crise econômica dos últimos 30 anos, agravada pela pandemia e pelo endurecimento do embargo econômico dos Estados Unidos, contribuiu para essa guinada espiritual em um país historicamente
dominado por políticas seculares e marxistas.


1. Da repressão à liberdade religiosa: um novo cenário cubano


Após a Revolução de 1959, Cuba adotou o ateísmo como diretriz estatal. A Constituição de 1976 institucionalizou essa postura, obrigando que todo o trabalho educacional
fosse pautado pela "concepção científica marxista-leninista". Religiosos eram marginalizados do ensino superior, dos cargos públicos e da militância política. Porém,
com o fim da União Soviética e a crise do socialismo real nos anos 1990, o regime começou a rever essa rigidez.


A visita do Papa João Paulo II em 1998 e a publicação do livro Fidel e a Religião abriram espaço para uma aproximação institucional
entre o Estado e a Igreja Católica. A Constituição de 2019 consolidou essa virada ao reconhecer oficialmente a liberdade religiosa. Mesmo assim, a herança ateísta ainda limita censos religiosos
e mantêm alguns preconceitos institucionais.


2. Pentecostais e neopentecostais: as novas forças da fé


Em meio ao colapso econômico, cubanos têm buscado refúgio nas igrejas evangélicas, especialmente pentecostais e neopentecostais. Estes templos oferecem esperança, acolhimento,
assistência social e uma promessa de prosperidade — um pacote atrativo em tempos de desespero.


As igrejas seguem um modelo similar ao encontrado em outros países latino-americanos: culto carismático, música envolvente, redes sociais ativas, retórica da guerra espiritual, e
forte adesão à Teologia da Prosperidade. Para muitos jovens, é uma alternativa às limitações impostas pelo regime e uma porta de entrada para um novo senso de pertencimento.


Daniel, pastor da igreja Cristo Fuente de Vida, diz que “o fim dos tempos está próximo” e que muitos têm procurado a fé como caminho para salvação e fartura.
Em seus cultos em Havana, há filas para orações e, ao final, a comunidade se reúne em cafés da manhã coletivos com produtos difíceis de encontrar em mercados estatais.



3. O papel das redes sociais e da influência estrangeira


A digitalização e o acesso crescente à internet também desempenham papel essencial nesse fenômeno. Pastores cubanos ganham visibilidade nas redes, enquanto igrejas recebem apoio
de organizações estrangeiras, principalmente norte-americanas e latino-americanas. Este cenário tem acelerado a presença evangélica nas cidades e no interior cubano.


Segundo o pesquisador Pedro Sifontes, desde 2020 há um crescimento perceptível de movimentos evangélicos nas ruas, praças e redes sociais — fenômeno ainda invisível
em números, já que o governo não realiza censos religiosos.


4. Fé, conservadorismo e política


Esse renascimento religioso traz consigo um novo elemento ao cenário político cubano: o conservadorismo evangélico. Grupos evangélicos criticaram publicamente o Código das
Famílias, aprovado em 2022, que legalizou o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Eles também se manifestaram de forma contrária ao posicionamento do governo sobre o conflito Hamas-Israel, demonstrando
crescente autonomia política.


A retórica pró-valores familiares, contrária à ideologia de gênero, ao casamento homoafetivo e à doutrinação estatal, ganha espaço entre os evangélicos
— assim como no Brasil. O homeschooling, por exemplo, já entrou no debate público em igrejas de Cuba.


Segundo Delana Corazza, pesquisadora do Observatório sobre os Neopentecostais na Política, as igrejas oferecem não só doutrina, mas também um sentimento de pertencimento e
apoio comunitário que outros espaços não conseguem oferecer em tempos de escassez e insegurança.



5. Religião afro-cubana e conflitos internos


Apesar da crescente abertura religiosa, tensões persistem. Algumas lideranças evangélicas utilizam as redes sociais para atacar crenças afro-cubanas como a santeria, tradicionalmente
presente na cultura da ilha. Embora em menor escala que no Brasil, essas atitudes têm potencial de gerar conflitos inter-religiosos e aprofundar a polarização social.


Frei Betto vê com preocupação o uso político da fé. Ele aponta que algumas igrejas neopentecostais se opõem abertamente à Revolução Cubana e promovem
valores do capitalismo, como meritocracia e individualismo, o que entra em choque com a essência coletivista do regime.



Em um país historicamente marcado por tensões entre religião e política, o crescimento evangélico representa uma nova fase da sociedade cubana. Enquanto o regime tenta sobreviver
à crise econômica e ao isolamento internacional, a fé ressurge como alternativa de resistência, esperança e — para muitos — transformação.


 


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Todas as fontes de informação foram verificadas pelo Portal Paparazzi Brasil.




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