A ausência da pauta racial em eventos de tecnologia continua escancarando um problema estrutural: a falta de representatividade negra em posições de liderança e protagonismo no setor.
Recentemente, participei de dois eventos que revelaram lados opostos dessa discussão, ambos com grande impacto no mundo corporativo.

Inclusão racial em destaque: o exemplo da Amcham

No primeiro evento, realizado na sede da Amcham (Câmara do Comércio Americano), participei como palestrante em um painel que debateu a importância
da inclusão racial nas empresas. O encontro contou com a presença de gigantes como a General Motors, demonstrando que há, sim, movimentos significativos em prol da diversidade. A coragem e a determinação
de líderes que enfrentam barreiras estruturais para promover a equidade racial marcaram o evento. Ficou claro que, mesmo em um ambiente historicamente excludente, há espaço para avanço — desde
que haja comprometimento.

VTEX Day: tecnologia avança, diversidade não

Na contramão, o VTEX Day, considerado um dos maiores eventos de tecnologia do mundo, reuniu cerca de 25 mil pessoas em São Paulo e deixou uma lacuna preocupante:
a total ausência da pauta racial. Entre dezenas de palestras e líderes de grandes empresas como Amazon, Magazine Luiza e Mercado Livre, a presença negra foi praticamente
inexistente. O único momento de respiro foi a emocionante participação da atriz Viola Davis, estrela do evento, que compartilhou sua inspiradora trajetória
de superação.

Viola Davis: presença simbólica, mas insuficiente

Viola Davis brilhou no palco e emocionou o público com sua história de luta e conquista. Sua presença foi importante, mas insuficiente para compensar a falta de representatividade nos painéis
e debates. A atriz americana foi praticamente a única figura negra com espaço de destaque no evento, o que evidencia o quanto a diversidade ainda é negligenciada no setor de tecnologia.

A fala da VTEX e a insuficiência das ações

Em entrevista exclusiva ao portal Paparazzi Brasil, a General Manager da VTEX no Brasil, Rafaela Rezende, mencionou algumas ações pontuais da empresa com ONGs sociais. No entanto, essas iniciativas ainda parecem superficiais diante da profundidade do problema. O próprio
co-fundador da empresa, Mariano Gomide, afirmou querer “mostrar o Brasil para o mundo” e reforçou que o país é mais do que o agronegócio. No
entanto, não se pode falar em inovação sem considerar os 56% de brasileiros negros e negras.

Inteligência artificial e racismo estrutural

O principal tema do VTEX Day foi a inteligência artificial, uma área com enorme potencial de transformação — para o bem e para o mal. Se desenvolvida sem compromisso com diversidade,
a IA pode reproduzir e amplificar desigualdades raciais. A ética no desenvolvimento de tecnologias precisa incluir a perspectiva racial como elemento central, e não periférico.
Essa responsabilidade é de todos: empresas, desenvolvedores e organizadores de grandes eventos.

A falta de representatividade negra no VTEX Day não é um detalhe, é um sintoma. Para que o Brasil realmente mostre ao mundo sua inovação, precisa mostrar também sua
diversidade. É hora de parar de tratar a inclusão como pauta secundária e reconhecê-la como parte essencial da transformação digital.

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