
Cazuza e o legado eterno: por que ele ainda pulsa no Brasil
Mesmo 35 anos após sua morte, Cazuza continua presente na cultura popular brasileira — sua música, seu espírito rebelde e sua coragem diante da Aids ainda ressoam fortemente com diferentes
gerações. Mas por que, apesar disso, ele não é reconhecido como um ícone do movimento LGBT? Especialistas apontam que, embora não tenha sido militante declarado, seu impacto foi profundo
e duradouro.
A potência de sua obra e sua presença cultural
Agenor de Miranda Araújo Neto, o Cazuza, foi muito mais que o “poeta exagerado” do rock nacional. Entre 1981 e 1990, primeiro como vocalista do Barão Vermelho e depois em carreira solo,
ele compôs mais de 250 obras e gravou mais de 300 músicas. Com temas que vão do amor à crítica social, sua obra permanece viva — regravada, redescoberta e reverenciada.
Hoje, Cazuza soma mais de 3,8 milhões de ouvintes mensais no Spotify, rivalizando com artistas em plena atividade. Em sua homenagem, a exposição Cazuza Exagerado, no Rio de Janeiro, já atraiu mais de 17 mil visitantes nas primeiras semanas. “Artisticamente, ele nunca perdeu relevância”, afirma Horácio Brandão,
idealizador da mostra, ao portal Paparazzi Brasil.
Voz de uma geração em transformação
Para Rafael Julião, professor da UFRJ e autor da biografia Cazuza: Segredos de Liquidificador, o cantor conseguiu dar voz a uma juventude que vivia a ressaca dos sonhos
revolucionários da década de 1980. “Cazuza cronicou o desencanto e a vontade de mudança de sua geração. Ele foi o símbolo da liberdade possível em meio às contradições
do Brasil pós-ditadura.”
A especialista em audiovisual Gisele Jordão, da ESPM, destaca a complexidade da figura de Cazuza: “Ele era rebelde e vulnerável, sensível e provocador. Essa dualidade permitiu que
suas mensagens atravessassem o tempo e ainda falassem com o presente.”
A relação com a comunidade LGBT
Embora Cazuza tenha vivido sua bissexualidade de forma aberta, ele nunca se posicionou diretamente em defesa do movimento LGBT. Isso levou ativistas como Luiz Mott, fundador do Grupo Gay da Bahia, a criticarem
sua postura silenciosa. “Ele tinha visibilidade, mas escolheu não usar sua voz para apoiar explicitamente a causa”, afirmou ao portal Paparazzi Brasil.
No entanto, Gisele Jordão ressalta que o contexto da época — marcado por forte estigmatização — explica parte desse comportamento. “Sua simples presença pública
como bissexual já foi um ato político potente para aquela década.”
Além disso, Cazuza teve relacionamentos públicos com homens, incluindo o músico Ney Matogrosso. Ney, em entrevista recente, descreveu a relação como intensa, mas difícil.
“Ele era dois em um. Em público, agressivo e excessivo; na intimidade, encantador.”
Cazuza e a luta contra a Aids
Talvez seu maior legado político tenha sido o enfrentamento da Aids com coragem e transparência. Ao assumir publicamente sua condição de soropositivo, ele quebrou o silêncio
e os tabus em torno da doença, dando um rosto à epidemia que devastava o país nos anos 80.
Sua aparição na capa da revista Veja em 1989 foi um marco. “Aquilo foi avassalador”, lembra o ativista Beto de Jesus, da Aids Healthcare Foundation. “Ele mostrou que a doença
podia atingir qualquer um. Foi um ato de coragem e generosidade.”
A partir de sua visibilidade, os pais do cantor fundaram a Sociedade Viva Cazuza, que entre 1990 e 2020 prestou assistência a crianças e jovens soropositivos,
financiada com os direitos autorais do artista.
O ícone que ainda reverbera
Cazuza pode não ter assumido o papel de militante LGBT, mas sua contribuição para a luta contra o preconceito e a estigmatização da Aids é inegável. Sua arte
continua viva e pulsante, suas letras permanecem atuais e sua atitude diante da vida — ousada, exagerada e sincera — ainda inspira.
Num país em que muitos se calam, ele falou alto, viveu intensamente e deixou uma marca que o tempo não apaga.
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